Septoria glycines

11.06.2025 | 10:33 (UTC -3)
Foto: Luis Carregal
Foto: Luis Carregal

Septoria glycines pertence ao filo Ascomycota, classe Dothideomycetes, família Mycosphaerellaceae, apresentando características morfológicas e fisiológicas típicas de fungos fitopatogênicos especializados. Sua classificação taxonômica tem ado por revisões devido aos avanços na sistemática molecular, embora a nomenclatura tradicional ainda seja amplamente aceita na literatura fitopatológica.

O ciclo de vida deste patógeno caracteriza-se pela complexidade e adaptabilidade, apresentando tanto fase anamórfica quanto teleomórfica.

A fase assexual, predominante em condições de campo, envolve a formação de picnídios subepidérmicos nas folhas infectadas, estruturas esféricas de coloração escura que abrigam conídios hialinos e plurisseptados. Estes conídios, com dimensões de 21-45 × 1,5-2 μm (Quaedvlieg et al., 2013), constituem as unidades de disseminação primária do patógeno.

A morfologia dos conídios de S. glycines reflete adaptações evolutivas específicas para dispersão em ambiente aquático, apresentando formato cilíndrico e septos que facilitam a fragmentação em condições favoráveis. A germinação destes esporos requer presença de água livre na superfície foliar e temperaturas entre 15-30°C, com ótimo desenvolvimento em 24-26°C.

Ecologia e epidemiologia

A ecologia de S. glycines demonstra notável adaptação ao nicho da filosfera da soja, com distribuição geográfica que acompanha as principais regiões produtoras da oleaginosa. O patógeno apresenta estratégias múltiplas de sobrevivência, incluindo capacidade saprófita facultativa em restos culturais, formação de estruturas de resistência e transmissão via sementes.

Os fatores ambientais exercem influência determinante na dinâmica populacional do patógeno. A precipitação constitui o principal fator epidemiológico, sendo responsável pela dispersão dos conídios e criação de condições favoráveis à infecção. Períodos de molhamento foliar superiores a 6 horas, associados a umidade relativa acima de 80%, propiciam condições ótimas para o estabelecimento da doença.

A interação entre S. glycines e seu hospedeiro caracteriza-se pela especificidade e complexidade dos mecanismos envolvidos. O patógeno produz arsenal enzimático diversificado, incluindo celulases, pectinases e cutinases, que facilitam a penetração e colonização dos tecidos foliares. A penetração ocorre preferencialmente através de aberturas naturais, embora a capacidade de penetração direta pela cutícula tenha sido documentada.

Patogênese e sintomatologia

O processo patogênico iniciado por Septoria glycines resulta em sintomas característicos que evoluem de forma previsível ao longo do desenvolvimento da doença. As lesões iniciais manifestam-se como pequenas manchas angulares de coloração marrom-clara, frequentemente delimitadas pelas nervuras foliares. A evolução destas lesões para áreas necróticas maiores, com presença de pontuações negras características (picnídios), constitui o padrão sintomatológico típico da septoriose.

A colonização dos tecidos foliares por S. glycines resulta em morte celular progressiva, comprometendo a área foliar fotossinteticamente ativa. O padrão de progressão da doença, iniciando-se nas folhas basais e ascendendo na planta, reflete tanto a dinâmica de disseminação dos esporos quanto a suscetibilidade diferencial dos tecidos em diferentes estágios fenológicos.

A formação de haustórios especializados permite ao patógeno estabelecer relação nutricional íntima com as células hospedeiras, extraindo recursos essenciais para seu desenvolvimento enquanto produz metabólitos tóxicos que contribuem para a patogênese. Este processo resulta na característica clorose perilesional observada em estágios iniciais da infecção.

Impactos econômicos e danos

Os danos causados por Septoria glycines na cultura da soja manifestam-se através de múltiplos mecanismos que impactam tanto a produtividade quanto a qualidade dos grãos. A redução da área foliar fotossinteticamente ativa constitui o principal mecanismo de dano, comprometendo a capacidade da planta de produzir e translocar fotoassimilados para o enchimento dos grãos.

As perdas econômicas associadas à septoriose variam significativamente em função da época de infecção, condições ambientais e suscetibilidade da cultivar. Infecções precoces, ocorrendo durante os estágios reprodutivos iniciais (R1-R3), podem resultar em perdas maiores de produtividade; infecções tardias geralmente ocasionam perdas menores, embora ainda economicamente significativas.

Além dos danos diretos na produtividade, S. glycines afeta a qualidade dos grãos através da redução do peso de mil grãos, alterações na composição química e formação de grãos mal desenvolvidos. Estes impactos na qualidade podem resultar em depreciação do valor comercial do produto, amplificando as perdas econômicas totais.

Os custos indiretos associados ao controle da septoriose incluem aplicações de fungicidas, implementação de práticas culturais específicas e, em casos extremos, necessidade de replantio. Estes custos adicionais devem ser considerados na análise econômica total do impacto da doença nos sistemas de produção.

Estratégias de controle e manejo integrado

O controle eficaz de Septoria glycines requer abordagem integrada que combine múltiplas táticas, reconhecendo as limitações e potencialidades de cada estratégia individual. A resistência genética constitui a base fundamental do manejo, oferecendo controle duradouro e economicamente viável quando adequadamente implementada.

O desenvolvimento de cultivares resistentes baseia-se tanto em resistência horizontal (quantitativa) quanto vertical (qualitativa), sendo a primeira preferível devido à maior durabilidade. Programas de melhoramento modernos utilizam seleção assistida por marcadores moleculares e introgressão de genes de espécies selvagens para ampliar a base genética de resistência.

As práticas culturais desempenham papel fundamental na redução do inóculo inicial e criação de condições desfavoráveis ao desenvolvimento do patógeno. A rotação de culturas com espécies não hospedeiras, especialmente gramíneas, interrompe o ciclo do patógeno e reduz significativamente a pressão da doença. O manejo adequado dos restos culturais, através de incorporação ou destruição, elimina importante fonte de inóculo primário.

O controle químico, embora eficaz, deve ser implementado de forma racional para evitar desenvolvimento de resistência e minimizar impactos ambientais. Fungicidas dos grupos triazóis e estrobilurinas, aplicados preventivamente ou nos primeiros sintomas, demonstram eficácia no controle da septoriose. A rotação de mecanismos de ação e uso de misturas constituem estratégias importantes para o manejo da resistência.

O controle biológico emerge como alternativa promissora, utilizando antagonistas microbianos que competem com o patógeno por recursos ou produzem metabólitos antimicrobianos. Embora ainda em desenvolvimento, esta estratégia oferece potencial para integração em sistemas de manejo sustentável.

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