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Ao longo de dois dias (15 e 16 de julho), a conservação e a multiplicação das sementes crioulas foram os temas centrais das palestras e dos debates realizados na Embrapa Clima Temperado, durante o Seminário Internacional Sementes Crioulas – ‘O hoje e o amanhã’.
“As sementes são a vida do campo e fazem parte do cotidiano dos agricultores. As práticas populares de manutenção e de melhoramento de espécies são legados deixados de pais para filhos e que vão sendo disseminadas pelo homem do campo de geração em geração”, disse o agricultor, guardião de sementes e representante da Associação Biodinâmica do Sul (ABD Sul), Juarez Filipi Pereira.
Juarez destacou ainda que existe um momento em que não se diferencia mais o ser humano do ambiente, dos alimentos, do trabalho, do solo e de outros aspectos, pois tudo a a se tornar um único organismo, que trabalha em sinergia em prol da vida. “As sementes são esperança de vida. Eu as vivo. Se eu, por exemplo, corto uma moranga que é grande, bonita e saborosa, naturalmente conservo as sementes, com amor e dedicação. Existe um critério de julgamento, um saber valioso, envolvido no processo de seleção das sementes que serão conservadas”, enfatizou o agricultor de Barra do Ribeiro.
O trabalho de um guardião de sementes envolve diversas etapas, entre elas: escolha das melhores plantas, preparo das sementes e do solo, tratos culturais, colheita, secagem e armazenamento. “Todas essas etapas exigem dedicação e amor às sementes”, enfatizou Juarez.
A pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, Rosa Lia Barbieri, destaca a relevância do papel dos guardiões de sementes. Durante, o evento ela ciceroneou os palestrantes do Nepal, Abishkar Subedi e Rachana Devkota e da Índia, Saujanendra Swain, que conheceram os trabalhos desenvolvidos pela Unidade. Os estrangeiros estão envolvidos com o Programa de Manejo Comunitário de Biodiversidade (CBM), do qual a Unidade faz parte. “Essa troca de experiências com os visitantes enriquece os trabalhos de pesquisa”, disse ela.
O representante da Li-Bird, do Nepal, explica que algumas ferramentas de sensibilização participativa são realizadas desde 2003, através do CBM, junto aos agricultores do país, com o objetivo de proporcionar debates sobre a importância da agrobiodiversidade e incentivar trocas de experiências e de sementes crioulas. “Validamos a metodologia de registro comunitário da biodiversidade, através de narrativas do avô para a neta que mesmo ainda criança, vai registrando e descrevendo a história evolutiva de determinada semente. Implantamos bancos comunitários de sementes, garantindo o seguro às sementes dentro da comunidade. Além disso, todas as sementes são conservadas de maneira tradicional, de acordo com o conhecimento da comunidade”, explicou Abishkar. Segundo ele, dados revelam que essa iniciativa proporcionou às famílias consideradas pobres um maior o às sementes.
O representante da MSSRF, da Índia, disse que em seu país as casas dos agricultores estão muito próximas uma das outras. “Temos uma cultura de tribos, com nove grupos étnicos importantes e que estão interessados em contribuir com a conservação das sementes crioulas, pois seu cultivo é voltado para a subsistência, assim cada agricultor é considerado um guardião de semente”, explicou. Ele disse que a Índia realizou uma iniciativa mundial pioneira quando criou, em 2005, o primeiro órgão público voltado exclusivamente para a proteção de variedades crioulas e direito dos agricultores. “Em nosso país, cada comunidade detém um banco de sementes. O agricultor entrega sementes selecionadas de sua variedade para o banco, eles registram a variedade em seu nome e a conservam por um ou dois anos. É feita a multiplicação dessas sementes e parte delas fica armazenada a longo prazo no banco de sementes nacional”, explicou Saujanendra.
Embrapa Clima Temperado
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